É PRECISO SENSO DE URGÊNCIA! ECOSSOCIALISMO OU EXTINÇÃO!

“Cada geração deve descobrir sua missão, cumprí-la ou traí-la”

Frantz Fanon em Os Condenados da Terra

Nós, militantes que construímos ao longo dos últimos anos com muita energia e dedicação a estratégia ecossocialista para o Bem Viver, que estivemos em tantas lutas concretas e construímos ao longo dos últimos anos os territórios coletivos nas cidades, comunidades agroecológicas no campo e todas as edições de mutirões do Bem Viver nas florestas (até que fizemos essa edição em resposta à pandemia, partilhada com mais pessoas), viemos a público oficializar nossa saída do Subverta. Ainda que em temporalidades distintas, nós, que desempenhamos papel fundamental na fundação da organização, na formulação estratégica, na construção cotidiana, na expansão e na organização interna, já não reconhecíamos mais nesse coletivo uma alternativa possível para realizarmos nossa estratégia ecossocialista e alcançar uma sociedade do Bem Viver.

Buscamos por um longo período promover essa recomposição e mediação internamente, pois não gostaríamos de ser mais uma organização que se fragmenta na história das Revoluções. No entanto, na materialidade da vida, as divergências de estratégia, concepção de organização e condutas políticas militantes inviabilizaram uma caminhada conjunta. Nenhuma organização é monolítica, portanto, tais motivos da ruptura não se aplicam à totalidade da militância que permaneceu na organização anterior. Reconhecemos como camaradas, damos muito valor e nutrimos profundo respeito por essas pessoas (e temos convicção que ainda cerraremos fileiras conjuntamente nas grandes batalhas do nosso tempo, cada dia mais acirradas).

O capitalismo encontra-se diante de uma crise estrutural e nos impõe sobreviver a uma conjuntura de soma de todas as crises: econômica, social, ecológica, sanitária e muitas outras combinadas que se retroalimentam negativamente na totalidade. Sob a urgência de quem precisa deter um desastre ambiental planetário enquanto ainda há tempo, avaliamos que estamos em um momento decisivo. Ainda vamos além: só teremos saída para a humanidade, os demais animais não-humanos e todo o restante da Natureza caso consigamos derrotar o sistema capitalista ainda nessa geração! É tempo de ir na raiz do problema e falar em alto e bom som que precisamos de uma nova sociedade que acabe com a exploração, com todas as opressões e com a destruição do planeta (e construir efetivamente todos os caminhos para isso). Construir esse caminho antissistêmico de baixo para cima, que se contraponha ao discurso falso antissistema da extrema-direita em todos os lugares onde ele possui força social é da maior importância.

Não faltam exemplos práticos do último período (no Brasil e na América Latina) que apontam a necessidade imperativa de um programa radical de massas e a potência que ele tem quando alcança a classe trabalhadora, inclusive na disputa eleitoral. Não é possível aceitar as mediações e pressões da institucionalidade que no Brasil de hoje nos empurram para uma esquerda moderada, que naturaliza a conciliação de classes, o modelo de suposto desenvolvimento eternamente primário exportador no Sul Global e apenas beneficia os que estão desde sempre no topo da pirâmide social. Derrotar a classe dirigente e suas expressões fascistas envolve decisões difíceis de nós, pessoas militantes revolucionárias. E impõe de nós uma dupla tarefa na busca ativa por unidade entre os setores da classe trabalhadora com disposição para luta, assim como a busca também inadiável por construir uma esquerda radical de massas no Brasil, com programa e estratégia enraizados nos territórios e com sabedoria e capacidade de autocrítica para vencer os mais imobilizantes aspectos da grave crise de práxis na qual a esquerda brasileira se encontra hoje. Acreditamos na disputa da institucionalidade no Estado burguês como instrumento de resistência e denúncia, portanto, apostamos e seguiremos apostando no PSOL enquanto partido amplo e seguiremos construindo os mandatos coletivos que sempre defendemos como instrumento pedagógico de construção do Poder Popular. Seguiremos nossa construção estratégica fora da institucionalidade, mas também dentro dela, com profundo cuidado para que isso não se torne um fator anestesiante de saltos maiores rumo a uma Revolução, nem nos faça fechar os olhos para processos cotidianos e desvios burocráticos que não estejam de acordo com nossos princípios e valores.

No final de 2018, sob a tensão da eleição de Bolsonaro, muitas de nós que hoje rompemos propusemos ao Subverta, coletivo que havíamos co-fundado ainda enquanto uma corrente interna do PSOL, que assumisse um papel de maior importância, passando a ser uma organização política revolucionária com uma estratégia de totalidade, um programa e uma estrutura organizativa para conseguirmos realizar uma missão de tamanha envergadura. Foi nesse contexto que o coletivo adotou para si a estratégia ecossocialista para o Bem Viver (e colheu frutos tão importantes passando a ser reconhecido nacionalmente). Hoje, quatro anos após sua fundação e quase três anos desde que assumiu essa formulação estratégica, avaliamos que no Subverta nunca chegou a alcançar a coesão interna e firmeza necessária para realizá-la. E essa estratégia, tão potente e relevante para o futuro da humanidade, dos animais não-humanos e de todo o restante da Natureza, merece uma casa que a acolha e a construa com toda sua força.

Nós, militantes das cidades, indígenas, quilombolas e pessoas que formularam a estratégia ecossocialista para o Bem Viver no Subverta ao longo desses últimos anos, estamos enfim marchando para construir uma nova casa. Travessias são sempre desafiadoras, mas hoje podemos dizer com toda força e energia que seguiremos fazendo as coisas que fizeram tanta gente brilhar os olhos e voltar a acreditar em nós e em uma transformação de mundo no campo, nas florestas e nas cidades a partir de uma maioria social. E ainda nos comprometemos a ir além: enfim nascerá o instrumento que melhor sintetiza nossa estratégia para darmos nossa contribuição na missão histórica que está diante da classe trabalhadora do Brasil, da América Latina, do Sul Global e do mundo. Enfim nascerá o Movimento Bem Viver!

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